Em carta endossada por parlamentares, federações sugerem tratamento precoce, substituição de fechamentos por testagem em massa e autonomia de associações de prefeitos sobre bandeiras.
A minuta de uma carta endereçada ao governador Eduardo Leite (PSDB) e que circula desde o início da semana no grupo de WhatsApp da bancada federal gaúcha ajuda a explicar as últimas movimentações do governo do Estado e de prefeitos nas políticas de enfrentamento ao coronavírus, e aumenta a pressão para que gestores sigam entendimentos bastante semelhantes a de integrantes do governo federal. O documento, gestado no segmento empresarial, já está assinado pelos presidentes das quatro principais federações empresariais gaúchas, e que representam os três grandes setores em que é dividida a economia (agricultura, indústria e comércio e serviços). Sua inclusão no grupo de parlamentares tem por objetivo obter também o apoio de deputados a três propostas principais.
Na manhã desta quinta-feira (23), o líder da bancada gaúcha na Câmara dos Deputados, Giovani Cherini (PL), informou que a carta deve ser entregue hoje ao governador. Ele adiantou ainda que, após videoconferência realizada ontem com Leite, e da qual participaram também o presidente da Assembleia Legislativa, Ernani Polo (PP), e um grupo de médicos, o governador ficou de levar para a reunião desta manhã do Gabinete de Crise Covid-19 a adesão do Estado a uma das propostas que já constam no documento, a do chamado “tratamento precoce”. “O governador vai nos dar uma resposta nas próximas horas”, informou o deputado.
A primeira proposta da carta que circula entre os parlamentares prevê que a política de avaliação de risco constante no modelo de Distanciamento Controlado tenha “caráter mais indicativo e menos impositivo”, ficando sua execução a critério das associações regionais de municípios. A segunda sugere substituir o fechamento de empresas por uma “política ampla e robusta de testagem da população”, a ser iniciada pelas regiões de maior risco. A carta cita, de forma genérica, a colaboração para incrementar a parceria com o governo federal de forma a aumentar a testagem. A terceira proposta é a disponibilização, por parte do governo estadual, do chamado ‘tratamento precoce”, para os casos “onde houver decisão do médico e desejo do paciente em utilizá-lo.”
A pretensão de que o governo do Estado abra mão da aplicação da política de Distanciamento Controlado, deixando-a a cargo das associações regionais de prefeitos já foi inclusive incorporada por Leite. O governador externou a proposta na reunião virtual que manteve com prefeitos na segunda-feira. Ela é desejada por diferentes segmentos econômicos que consideram mais fácil pressionar prefeitos do que o governo estadual, em função da proximidade com os governantes nas cidades e, ainda, da preocupação dos gestores com as eleições municipais. Pelo mesmo motivo, a dificuldade de resistir às pressões, os administradores municipais refutam a alteração no modelo. A ampliação dos testes é promessa antiga do governo do Estado e realidade em várias cidades gaúchas, entre elas a Capital, Porto Alegre. Mas a proposta de que substitua de forma integral as políticas de restrição à circulação são novidade. Na Europa, na Ásia e até nos Estados Unidos, a testagem em massa é utilizada de forma combinada a diferentes restrições, servindo como ferramenta para indicar os graus de abertura e fechamento. E sempre levando em conta a necessidade de contraprovas, em função das peculiaridades dos testes, como a relação entre o estágio da doença e o tipo de teste a ser aplicado e o percentual de falsos negativos ou falsos positivos.
Apesar de o documento não detalhar, o conhecido “tratamento precoce” é aquele que vem ganhando adesão de prefeitos de diferentes regiões do Estado, com destaque para a Serra e a região Metropolitana, à revelia dos sucessivos alertas de entidades médicas e científicas de que não há comprovação da sua eficácia para combater a doença e de que eles possuem efeitos colaterais. O chamado kit-covid inclui os medicamentos cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina. “Posso dizer que dois terços da nossa bancada apoia o tratamento precoce. Existe um monte de opções de medicamentos para os médicos. É tão fácil resolver esse vírus que me deixa triste esta disputa política. Infelizmente, na linha de frente aí no RS, tá cheio dos Mandetta da vida, gente muito vinculada politicamente, e que ainda questiona a cloroquina”, dispara Cherini.
Informações: Correio do Povo