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Um ano após primeiro caso de Covid-19, Rio Grande do Sul vive pior momento da pandemia
10/03/2021 08:47 em Região

Taxa de ocupação de leitos segue acima de 100% no Estado

 

Um ano após registrar o primeiro caso de infecção pelo coronavírus, registrado em 10 de março do ano passado, o Rio Grande do Sul enfrenta o pior momento da pandemia, com esgotamento do sistema de saúde. Desde a confirmação do diagnóstico positivo para a Covid-19 de um homem de 60 anos, de Campo Bom, que teve histórico de viagem para Milão, na Itália, entre 16 e 23 de fevereiro, o Estado contabiliza mais de 13,5 mil mortes em decorrência da doença. Em meio à escalada da doença no ano passado, o Estado conseguiu dobrar o número de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI), disponibilizando mais de 2,1 mil unidades.

Mesmo com estrutura reforçada, o cenário atual é o pior desde o início da pandemia: hospitais lotados, falta de leitos e crescimento de internações e de óbitos. Especialistas apontam erros e acertos no combate à Covid-19, mas reforçam que falta de testagem em massa, a polarização entre economia e saúde pública, o relaxamento das medidas de isolamento social e o surgimento de novas cepas do vírus estão na raiz do aumento acentuado das internações e de mortes este ano. Por outro lado, o governo gaúcho enumera uma série de medidas adotadas para conter o avanço da Covid-19, como o sistema de Distanciamento Controlado e a reestruturação da rede assistencial de saúde.

Com 691,4 mil casos confirmados para a Covid-19, nos 497 municípios gaúchos, o RS viu a doença avançar desde 1 de dezembro, quando a Secretaria Estadual da Saúde (SES) contabilizava 7.149 vítimas fatais por conta da Covid-19. Em pouco mais de três meses, o número de óbitos aumentou 80,2%, chegando a 13,5 mil. A titular da SES, Arita Bergmann, explica que foi um ano de muitos desafios no enfrentamento 'de algo desconhecido', mas destaca que o governo conta com planejamento e plano de contingência para encarar esse momento crítico. Entre as medidas adotadas, ela aponta a elaboração do modelo de distanciamento, 'com base técnica e científica'. "Conseguimos uma proposta concreta onde, ao mesmo tempo que se coloca a preservação da vida, se permite, conforme a graduação das bandeiras, ir conciliando com a economia", afirma.

Questionado sobre erros e acertos nas políticas de combate ao vírus, Arita ressalta que é 'prematuro' dizer o que deu errado, mas observa que outros estados brasileiros, como Santa Catarina, Paraná, São Paulo, estão passando por dificuldades para conter a propagação do vírus. "Tem essa nova variante (P.1) que está assolando o país, muito mais agressiva, com maior transmissão, agravo de saúde maior e com número de mortes muito maior. Então tem aumento de internações em leitos clínicos", assinala. Conforme Arita, em janeiro, a média de ocupação de leitos clínicos era de 20%. Hoje está em 80%. Na avaliação da secretária, vários fatores contribuíram para a situação crítica do RS.

Ela reforça que a explosão de casos positivos, especialmente em fevereiro, tem relação com férias, aglomerações, festas clandestinas, não adoção dos protocolos obrigatórios e do uso de máscaras. "Parece que algumas pessoas não têm medo da Covid-19", alerta, acrescentando que atualmente existem 7.186 leitos clínicos que são só para casos relacionados à doença. "Leitos de UTI tínhamos em média 400 leitos vagos. Hoje não temos nenhum, porque a taxa de ocupação em média tem sido de 100%. Tivemos que adotar o plano de contingência, a fase 4, que é quando os leitos de UTI estão ocupados acima de 90% e pedimos para cancelar todas as cirurgias eletivas, usar blocos cirúrgicos, salas de recuperação, para também receber pacientes Covid-19".

 

Especialistas alertam para importância da vacinação e restrição da circulação de pessoas

Coordenador da Epicovid-19, maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil, o epidemiologista Pedro Hallal avalia que o combate à Covid-19 no RS tem erros e acertos. Ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Hallal explica que a adesão às medidas de distanciamento, no começo da pandemia, e a estruturação da rede de saúde, foram os grandes acertos. "Sempre que a gente fazia as nossas pesquisas, a gente identificava o RS como um dos lugares que mais se fazia distanciamento social. Também acho que foi um acerto no começo da pandemia a propositura do modelo de distanciamento controlado, que pelo menos nos primeiros meses funcionou muito bem", assinala.

Hallal frisa que o RS foi um dos locais em que o comitê científico criado pelo governo gaúcho 'teve muita voz' sobre a pandemia. E destaca ainda a existência do Epicovid. "É o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus, e aqui no RS tem um braço muito forte com 9 fases já realizadas. O especialista aponta alguns erros durante o processo. "Nunca teve uma política de testagem em larga escala no estado para identificar precocemente os casos e evitar disseminação do vírus. Nunca houve uma política de rastreamento de contato efetiva para identificar os contactantes dos casos e também isolá-los e evitar que eles transmitam a doença", avalia.

De acordo com Hallal, a polarização entre economia e saúde pública também pesou para o agravamento da pandemia. "Isso começou a se acentuar no meio do ano passado e atingiu seu ápice ao redor da época das eleições. Isso atrapalhou muito o andamento do processo e fez com que a coisa descontrolasse mais em direção ao final do ano no Estado", assinala. Sobre o aumento expressivo de novos casos e de óbitos, ele reforça que isso ocorreu em outros países. "A Covid-19 é uma doença cujo crescimento às vezes se dá numa progressão aritmética e quando chega o momento que chega a progressão geométrica, ela explode, que é o que está acontecendo no RS", alerta. "Hoje estamos no fundo do poço", completa.

 

Informações: Correio do Povo

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